Vou fazer esse post e quero que você, meu caro
leitor, visualize a pessoa. E depois de ler, escreva
aí nos comentários ou no meu e-mail se quiser conferir
a sua suposta visualização. :)
É o seguinte: Como eu bati uma foto da dita pessoa, e
como eu não a conheço pessoalmente, e sendo assim eu
não sei se ela se importaria de aparecer publicamente
aqui no meu blog, pelo sim, pelo não, o melhor, meu caro
leitor, é eu mandar a foto por e-mail para você, ok?
Deixe seu endereço. Ficamos assim combinados então??? :)))
Sem falar que isso será um ótimo exercício, para que eu
possa avaliar, se estou sendo explícita ao escrever!!
Vamos lá. Todos os dias vejo um senhorzinho, que deve
estar lá com seus 85 anos. No primeiro dia que o vi, já
o achei interessante. Pitoresco, diria. Sabe aquela pessoa
que marca na primeira vista? Ele é uma dessas pessoas.
Eu estava indo a padaria e ele cruzou comigo. Vinha na
minha direção com passos largos e firmes. Não sei se foi
o passo dele que me chamou a atenção ou se foi seu jeito
em se vestir. Pelos trajes, era óbvio que estava indo para
uma caminhada. Mas o que o diferenciava de outras pessoas
que também caminham pela orla da praia, era que ele estava
impecável! Chapéu coco, de palha, com abas largas. Camiseta
de mangas compridas, incrivelmente branca, e tão lisa,
que parecia ter sido passada a ferro no próprio corpo.
Camiseta essa, posta para dentro da sunga azul-piscina.
Um tenis bom e novo, ou super limpos. E meias na altura da
canela, tão alvas como a camiseta.
Visualizou??? Não tem como, não é? Principalmente pela
camiseta por dentro da sunga.
Pude observá-lo bem, porque ele vinha, como já disse, a
passos largos, mas olhava para o chão. Assim eu pude
continuar olhando sem contrangê-lo. Talvez estivesse olhando
para o tenis novo. Talvez para o chão mesmo, no cuidado
em não cair, devido a sua idade já avançada. Passou por mim,
e se foi em direção ao calçadão da praia. Tive vontade
de olhar para trás, mas me contive. Alguma coisa me dizia
que eu iria ver muuuuito aquele senhorzinho.
No dia seguinte estava eu saindo para caminhar, e enquanto
esperava para atravessar a avenida da praia, e quem estava
no lado oposto esperando também para atravessar???
Sim!!! O chapéu coco de palha com abas largas, a camiseta
de mangas compridas branca, por dentro da sunga azul-piscina,
tenis limpos e meias idem, com um senhorzinho dentro.
No dia anterior tinha ficado tão presa nos detalhes de sua
roupa (mais propriamente naquela camiseta branca por dentro
da sunga azul-piscina) que nem tinha notado em como ele era
bronzeado, magro, e apesar dos joelhos meios vergados pelo
peso da idade, pude até dizer que aquele bonitinho era
um velhinho saradão!
- É!!! Andar faz bem mesmo!!! Se eu chegar aos 85,
quero chegar assim! Inteirona! Aí compro um maiô
azul-piscina, coloco uma camiseta branca de mangas
compridas por dentro, tenis, meias, e um chapeu coco
de palha... pensei
E fui fazer minha caminhada tentando me imaginar com 85 anos.
É difícil se ver com tantos anos assim. Ainda mais de maiô
azul-piscina com uma blusa branca de mangas compridas por
dentro!!! Voltei pro meu tempo e continuei. Mas não antes
de imaginar a cara da minha filha me olhando com 85 anos,
horrorizada, saindo para caminhar daquele jeito e gritando:
- MÃAAAAE!!!!!!!!! HELOO!!!!!! e eu nem aí pra ela... :)
Bem...prefiro mil vezes que ela me veja assim um dia, do
que sentada ou deitada olhando o nada. Meu pai morreu com
68 anos e não antes de passar 2 longos anos sem poder sair
de casa, sem poder se comunicar, ou se locomover sem ajuda.
Tão novo e numa situação irreversível. E na sua última
semana, num hospital, na UTI, o médico me disse:
- Reze...Reze para que ele possa sair da UTI.
- E para ele sair daqui do hospital, bom, como
ele era há dois anos atrás??
- Não, Lenir, para ele voltar um pouquinho
pior do que já se encontrava...
Não rezei para isso. Meu amor de filha não poderia se
mostrar tão egoista assim. E por ele, rezei ao contrário...
Preferia sentir uma saudade brutal dele do que vê-lo
naquela situação...desprovido de poder usar até a sua
única vaidade, que assim como o homem da camiseta pra
dentro da sunga, também era meio duvidoso ao se vestir
e adorava os domingos colocar uma bermuda, sapatos e
meias. E ainda se achava o máximo, o meu querido!! :)
Enfim...Melhor voltar a atenção para o senhorzinho da
sunga azul antes que eu salgue o teclado...
Xiii...salguei!!!
Voltando... :) Todos os dias vejo aquela gracinha, e
assim como eu, ele também não tem horário certo para
as caminhadas. Têm dias que vou caminhar pela manhã,
se o dia estiver bonito. Outros caminho a noite com
o Re. Mas todos os dias vejo aquele chapéu coco. Ou
quando vou a padaria, ou ao mercado, ou mesmo da minha
varanda.
Outro dia, já estava quase no final do meu percurso, e
isso quer dizer que já estava com a lingua arrastando
no chão, quando ouvi um pléqui...pléqui...pléqui...atrás
de mim. Alguém de tenis novos - pensei! E o péqui...
pléqui...pléqui...aumentando a velocidade e chegando quase
junto a mim...Ahhh, a juventude!! - pensei novamente. E
olhei de rabo de olho. E reconheci emediatamente aqueles
tenis. E mais para cima, aquela sunga... Ele aumentou
ainda mais os passos, ficou lado a lado, levantou os olhos
do chão e me olhou. Eu vendo aquela pessoa já tão conhecida,
abri um sorriso amigo. Ele fechou a cara, talvez achando
que lhe dei aquele sorriso só por ele ser um "velhinho
bonitinho que não oferece mais perigo a nenhuma mulher".
Passou, abaixou a cabeça novamente para olhar seus próprios
passos, e abriu uma grande vantagem na caminhada. Eu continuei
a sorrir, ou a rir de mim mesma. Taí! Talvez caminhar não
seja tão bom assim!! Talvez aquele "velhinho apanhadinho"
tenha uns 35 anos!!! :)))
...E no dia seguinte, estava regando minhas plantas na varanda
e quem eu vejo passar na calçada???? Sim!!!! O chapéu
coco de palha com abas largas, bla bla bla bla bla bla bla...
- É hoje!!!! Preciso registrar essa figura!!
Peguei minha câmara e bati uma foto dele. Mesmo porque,
ele já foi assunto aqui em casa, e ninguém acreditava que
eu via esse homem todos os dias e sempre do mesmo jeitinho.
Fico imaginando a vida dele. Que pelo preparo, mesmo um tanto
curvadinho, e pelo jeito de andar, como se estivesse marchando,
talvez seja algum coronel aposentado. Que ainda deve ser
casado. Que a mulher dele é quem cuida todos os dias de sua
camiseta claríssima. Mas é ele que deve dar os últimos
retoques no ferro de passar. Que é ele também quem limpa o
tenis. Deve ter netos e bisnetos e que deve ser austero com
todos, porque ninguém até hoje teve coragem (porque também
não iria adiantar) de dizer:
- Vô. Tira essa camiseta de dentro da sunga!!!